Por Manuel Peralta Godinho e Cunha
Na minha opinião para se gostar da Festa Brava é necessário uma sensibilidade especial e como em qualquer arte, uns sentem mais, outros menos e também há os que não sentem nada. Isto é verdade com a tauromaquia, também é verdade com a pintura, escultura, música, etc. Quantas pessoas, mesmo com formação académica superior, são insensíveis à beleza de uma escultura, à combinação de cores numa pintura, aos acordes de uma boa música, etc.
A tauromaquia, ou as tauromaquias, são manifestações culturais dos povos do sul da Europa, mais concretamente da península Ibérica, de França e de alguns países da América Latina: México, Colômbia, Venezuela, Peru e Equador.
O toiro bravo é um animal que luta, que pode matar. Mas é provavelmente o único animal que sendo bravo é também nobre. É exactamente essa nobreza que permite as regras de tourear.
A bravura e a nobreza de um toiro notam-se principalmente pela investida recta para quem o excita. Contudo essa bravura pode também ser observada em outros detalhes do decurso da lide. Assim, em praça e ao sair do curro, o toiro bravo arranca-se com viveza para os capotes de e para qualquer lugar da arena e remata em tábuas sem querer saltar a trincheira; investe nos capotes sem levantar as patas dianteiras (mãos) arranca-se de largo para o cavalo do picador; não corta a saída perante os pares de bandarilhas e investe direito na muleta. Esse é o toiro bravo.
Claro que para haver toureio de verdade terá que haver toiro de lide.
Mas o gostar do toureio tem a ver com a sensibilidade. A aficion é uma paixão. Ser aficionado resulta de algo muito natural. Ninguém o será forçado.
Claro que quem viveu sempre em ambiente urbano, longe da natureza e dos animais dificilmente gostará de uma corrida de toiros. Esse terá pena dos toiros porque viu umas efémeras imagens no cinema ou na televisão.
Outros “amigos dos animais” estão aliviados das imagens tristes dos frangos no calor e ambiente horrível dos aviários. Frangos que nunca estiveram à luz do dia e que têm um óptimo aspecto já depenados e enrolados em película aderente. Galinhas poedeiras que passam a vida em gaiolas que não lhes permitem dar, sequer, um passo, não obstante os ovos aparecerem devidamente limpos e bem alinhados das prateleiras dos supermercados.
Também faz confusão a muita gente que alguns “amigos dos animais” mantenham em cativeiro - num apartamento - cães de grande porte a comerem só e exclusivamente rações e tenham periquitos e canários em gaiolas...
Os aficionados à Festa Brava respeitam naturalmente todas as opiniões e não querem que ninguém vá contrariado ver uma corrida de toiros.
Mas, seria bom que os recalcados anti-touradas não confundam toiros de lide com gatos, cães, periquitos ou papagaios. Esses são animais de cativeiro.
Os toiros de lide têm a dignidade dos lutadores e, por isso, os pegamos de caras em Portugal.
Claro que pior, bem pior, é o mau trato de grande parte dos animais racionais uns com os outros nas guerras, na falta de assistência básica, na dependência das drogas...Isto não parece impressionar em nada alguns grupos que só estão interessados na mediatização das suas ideias anti-touradas e no pavor que as corridas de toiros sejam transmitidas pela televisão. Para isso invocaram até a necessidade de se protegerem as crianças de, em casa, verem em directo imagens da última Corrida TV.
Assim, por decisão do Tribunal de Lisboa e relacionado com uma providência cautelar interposta pela Associação Animal - que visou restringir a exibição televisiva das touradas - a RTP ficou impedida de transmitir em directo a 44ª Corrida TV.
Segundo esta decisão da juíza Maria João Matos, o espectáculo só poderia ser retransmitido depois das 22,30 horas. E por zelosa e diligente segurança, o programa só deveria ir para o ar com um indicativo visual apropriado (a bolinha vermelha).
Neste país "democrático" podem ser transmitidas a qualquer hora, cenas de violência, enforcamentos de dirigentes árabes, casos relacionados com pedofilia, mesas redondas com gays e lésbicas e outras diabruras. Mas, como providência cautelar, aos portugueses em geral recomenda-se que só vejam programas tauromáquicos a horas avançadas na noite para "não influir de modo negativo na personalidade das crianças".
Uma ternura! Parece que estamos no país das maravilhas...
Por causa semelhante, quando no final do século XIX foram proibidas durante algum tempo as pegas na praça de toiros de Lisboa, escreveu Ramalho Ortigão:
Que falta faz esta RAMALHAL FIGURA..."...às razões de brandura de costumes, de humanidade, de filosofia, de civilização invocadas pelos que dirigem esta jigajoga, eu, humilde intérprete do povo, só uma coisa oponho: é que má raios partam o zelo tísico de tanto maricas, de tanto chocinha, de tanto lambisgóia!"