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Razões da saída da Prótoiro de José do Carmo Reis

Enviado: terça jun 11, 2013 10:25 am
por José do Carmo Reis
I – Introdução

Face aos acontecimentos registados nas últimas semanas, e em virtude da postura assumida pela Prótoiro para comigo, bem como das especulações a que esse facto deu azo, sinto-me no direito de esclarecer publicamente as razões que conduziram ao meu afastamento da Federação Portuguesa das Associações Taurinas.
Faço-o, em primeiro lugar, porque sinto a obrigação moral de oferecer a todos os aficionados que ao longo destes quinze meses comigo trabalharam, em mim confiaram e me ofereceram a sua ajuda, bem como a todos aqueles com os quais estabeleci relações de profundo respeito e amizade, a minha versão dos acontecimentos. Aproveito, ainda, para remeter a todos aqueles que me têm enviado mensagens de gratidão, solidariedade e, até, indignação, o meu profundo obrigado.
Faço-o, em segundo lugar, porque a necessária distância temporal dos acontecimentos me permitem, agora, uma análise ponderada, sem rancores, contudo não livre de algum natural ressentimento, à medida que tomo consciência de que todo este processo foi conduzido por algumas pessoas na Prótoiro, com igual dignidade, lealdade e destreza intelectual, de que se podem orgulhar os concorrentes do “Big Brother” em noite de nomeações.
Cumpri, antes de tomar esta decisão, com algumas metas que tinha estabelecido e que me obrigavam, por uma questão de lealdade, respeito e educação, a oferecer, também e pessoalmente, a algumas pessoas com responsabilidades na Prótoiro, as verdadeiras razões que conduziram ao meu afastamento da Comissão Executiva. Tive, ainda, oportunidade de lhes expressar a minha indignação pela forma como todo este processo foi, e continua a ser, conduzido pela Direcção da Federação Portuguesa das Associações Taurinas.
Gostaria, ainda, de agradecer a toda a Imprensa Taurina que me tem contactado ao longo das últimas semanas, solicitando entrevistas e esclarecimentos e colocando à minha disposição os vários canais de que dispõem para que eu pudesse contar a minha história. Opto agora por enviar este esclarecimento, para não correr o risco de, ainda que involuntariamente, ser acusado de beneficiar alguém. No entanto, a partir deste momento, estarei à disposição de toda a Imprensa Taurina que julgue pertinente enviar-me as suas questões.

II – A minha entrada para a Prótoiro
II.I – O convite para o debate da TVI

Sensivelmente em meados do mês de Outubro de 2011 recebi, em minha casa, um telefonema do Dr. José

Fernando Potier, pessoa a quem conhecia apenas por ter pegado no Grupo de Forcados da minha Terra, e por algum do trabalho que o mesmo vinha desenvolvendo na Associação Nacional de Grupos de Forcados. Nesse telefonema, foi-me explicado que a Prótoiro havia sido convidada para um debate na TVI e que, em virtude dos maus resultados conseguidos em debates anteriores, havia necessidade de mudar a forma, conteúdos e argumentos a apresentar, bem como as caras que representavam a Tauromaquia nos mesmos. Através de um amigo comum, havia tido conhecimento das minhas intervenções públicas em debates virtuais - “Sim versus Não à Tauromaquia” - dos resultados conseguidos, bem como do meu arquivo pessoal que, desde logo, coloquei à total disposição da Prótoiro. Solicitou-me, ainda, autorização para dar o meu número de telefone ao Dr. Diogo Costa Monteiro que, caso eu aceitasse integrar o painel escolhido, me esclareceria dos restantes pormenores.
Acedi, colocando apenas como condição que nos encontrássemos previamente, no sentido de acertar estratégias e argumentos, dividir assuntos e tomar conhecimento do que cada um poderia aportar de positivo a um debate deste tipo e com todas as condicionantes que, tanto pelo local, como pelo moderador, à partida, enfrentaríamos.
Como é do conhecimento publico, este debate teve lugar no dia 31 de Outubro de 2011, e será bom salientar que na altura em que nele participei, já todos os anti taurinos, dignos de assim serem designados em Portugal, conheciam o meu nome. Talvez porque a minha incessante busca de protagonismo a isso conduzisse.

II.II – O convite para integrar a Comissão Executiva

Três dias após o referido debate, novamente em minha casa, recebo, via correio electrónico, um pedido de ajuda do Dr. Diogo Costa Monteiro que, e justiça lhe seja feita, tal como eu havia defendido no debate, reconhecia que a defesa da Tauromaquia em Portugal necessitava da pró-actividade dos aficionados. Considerava que o esperar que os agentes profissionais da Festa se empenhassem e ajudassem, não nos faria sair do marasmo em que nos encontrávamos, que havia que por ordem na casa e, mais uma vez com crédito
para o Dr. Diogo Costa Monteiro, havia chegado à conclusão de que, não só não conseguiria levar a Prótoiro sozinho, como havia a necessidade de chamar os aficionados a colaborar no projecto.
Mais uma vez acedi, e demos inicio ao trabalho de elaboração do Plano de Acção para 2012, que veio a ser mais tarde apresentado a toda a Direcção, aprovado, e do qual resultou o convite formal para que se criasse e integrássemos a Comissão Executiva, da qual foi, indiscutivelmente, o Dr. Diogo Costa Monteiro o pai ideológico.

II.III – O convite para trabalhar a tempo inteiro na Prótoiro

Tendo em conta o volume de trabalho que nos propúnhamos levar a cabo, bem como a escassez de tempo de que cada um dos membros da Comissão Executiva dispunha, uma vez que todos tínhamos os nossos trabalhos, tornou-se obvio que o implementar do Plano de Acção que a Comissão Executiva havia delineado para a Prótoiro, tendo em vista uma defesa, promoção e divulgação da Festa de Toiros em Portugal, feita de um ponto de vista estruturado, consistente, e que pudesse apresentar resultados positivos, só poderia ser conseguido se encarado de uma forma profissional.
Neste sentido, por meados do mês de Abril de 2012 recebi, novamente em minha casa, um telefonema do Dr. Diogo Costa Monteiro, questionando a minha disponibilidade para integrar esse novo projecto de profissionalização, nuns casos a tempo inteiro, e noutro parcial, da Comissão Executiva da Prótoiro. Para além de questionar a minha disponibilidade para abraçar esse projecto, foi-me também questionado o salário pelo qual eu estaria disposto a integrar a Comissão Executiva da Prótoiro a tempo inteiro.

Para esse efeito, durante um almoço em minha casa, no dia 12 de Maio de 2012, foi discutido com o Dr. Diogo Costa Monteiro, e ficou acertado qual seria o meu vencimento para trabalhar a tempo inteiro na Prótoiro. Esse vencimento, que seria depois transportado para o projecto de profissionalização a apresentar à Direcção, não obstante agora ter falhado foi, mais uma vez, concebido pelo Dr. Diogo Costa Monteiro.
De salientar que no dia 7 de Junho de 2012, quando foi apresentado esse projecto de profissionalização, numa reunião que teve lugar no Campo Pequeno, toda a Direcção da Prótoiro teve conhecimento do mesmo, todos concordaram que seria esse o caminho a seguir, assim como terão ficado cientes de que alguns de nós, como foi o meu caso, iriamos abandonar o emprego e actividade que tínhamos, para poderemos integrar uma Comissão Executiva totalmente profissional.

III – As razões da minha saída
III.I – “A minha busca de protagonismo”

Durante os 15 meses em que estive ao serviço da Prótoiro, várias foram as vezes em que fui acusado de “excesso de protagonismo”. Quando integrei a Comissão Executiva da Prótoiro, fi-lo com o espirito de missão que, não obstante a profissionalização da mesma, entendo ser o necessário a quem desempenha tal função. Julguei eu, talvez erradamente, que a principal dever de quem defende a Tauromaquia contra aos ataques de que esta é vítima, é a de dar a cara. Fi-lo em todas as circunstâncias, e não deixa de ser curioso o facto de que, enquanto estive em Viana do Castelo, sozinho, recebendo ameaças de todo o lado, nunca tenha recebido um único telefonema de nenhum membro da Direcção da Prótoiro, preocupado com o protagonismo que eu estava a ter naquele campo de acção. É óbvio que, nestes casos, se alguém tem excesso de protagonismo, o mesmo deriva quase sempre da ausência do necessário protagonismo de outros, relativamente a uma exposição que tentam evitar, e ao trabalho incompleto a que isso mesmo dá aso.
Convenhamos, também, que a forma como a Imprensa Taurina se referia a mim, em nada ajudou. O mal-estar que afirmações como “José do Carmo Reis a principal alma da Prótoiro”; “Carmo Reis o rosto forte da Prótoiro”; “José Reis o herói de Viana do Castelo” podem, a quem não esteja completamente consciente das suas capacidades, minar confianças e, até, subverter amizades. Ter membros da Prótoiro em barreiras nas praças, e fotografarem o José do Carmo Reis na oitava fila, também não ajuda, mas escusado será desafiar toda a imprensa a que divulgue qual foi a foto que eu encomendei, ou a legenda pela qual me pus a jeito. Toda a Imprensa Taurina sabe que os favores que lhes pedi, e fiquei a dever, não foram para meu beneficio mas, sim, para o bom trabalho e divulgação do projecto Prótoiro.
Mas falemos de alguns dos casos onde fui acusado de “busca de protagonismo”.

III.II – O “caso” do Colóquio de Sousel

Quando, em 20 de Outubro de 2012, fui ao Coloquio de Sousel, que tinha como tema “O Futuro da Festa Brava em Portugal”, não estava em representação da Prótoiro, até porque ninguém da Federação havia sido formalmente convidado. Fui, enquanto aficionado, porque o tema a isso me incitava, e porque o painel de intervenientes a isso apelava. Gentilmente, o moderador do debate, teve a amabilidade de querer saber a minha opinião, e eu ofereci-lha. Tratava-se de saber como comunicar a Festa, um problema amplamente reconhecido, e ao qual eu sempre fui particularmente sensível. Como sempre disse aquilo que pensava, fiz uma extrapolação, onde considerei que cerca de 90% do que se escreve, nas redes sociais sobre toiros, seria “lixo”. Quando utilizei o termo “lixo”, fi-lo aplicando conceitos e termos informáticos, uma vez que é a designação correcta para nomear aquilo que, virtualmente, não presta. Todos temos caixas de correio electrónico – emails - e todos devem possuir um ícone para onde se remete aquilo que não tem valor, é
indesejado e, até, enganoso. Esse ícone tem uma designação: - “Junk – Lixo”.
Compreendeu quem quis, e quem estava. Tive, alias, oportunidade de recentemente esclarecer esse “caso” com o autor da notícia, que não teve problemas nenhuns em reconhecer que, não estando presente, havia feito uma falsa interpretação das palavras que eu havia proferido.
Não obstante, este caso foi considerado pela Direcção e restante Comissão Executiva da Prótoiro, como uma tentativa minha de colher protagonismo.

III.III – O “caso” do Jantar do Nuno Carvalho “Mata”

O caso do jantar que eu quis organizar em favor do forcado Nuno Carvalho foi, por ventura, aquele que mais me marcou e, ao mesmo tempo, chocou. Estando eu presente na fatídica noite em que o Nuno foi colhido, sempre defendi que a Prótoiro estaria obrigada a tomar uma posição pública, inequívoca e esclarecedora, bem como a colocar todos os seus recursos, conhecimentos e influencias, em favor de tudo o que fosse possível fazer para colmatar aquela que foi, indiscutivelmente, uma das maiores tragedias que aconteceram nas nossas arenas nos últimos anos. Discordei da passividade adoptada perante as evidencias e, na falta de fazermos algo institucionalmente, decidi-me a aportar o meu grão de areia.
Contactei o cabo do Grupo de Forcados da Moita, alguns forcados desse Grupo e, com o consentimento e disponibilidade para ajudar dos mesmos, decidi-me organizar um jantar com uma noite de fados, em favor do Nuno.
Vários foram os agentes da Festa que de imediato se dispuseram a colaborar neste evento, contactei fadistas profissionais e amadores, pedi orçamentos em restaurantes, e lancei o cartaz de divulgação. Surpreendeu-me pela positiva, o facto de, em menos de 12 horas, ter recebido cerca de 30 reservas para o referido jantar.
No dia seguinte à divulgação desse cartaz, recebo um telefonema do Dr. José Fernando Potier e outro, mais tarde, do Dr. Diogo Costa Monteiro, afirmando, entre outras coisas, aquilo que até hoje não consegui compreender, que as minhas funções na Prótoiro eram incompatíveis com a organização de um jantar que eu, e todos, entendíamos de solidariedade, muito mais que do que necessária, obrigatória a qualquer aficionado. Mais uma vez, as minhas intenções foram questionadas e interpretadas como se de uma vontade de aparecer se tratasse.
Aproveito para endereçar daqui ao Nuno os meus votos de melhoras, e remeter-lhe, também, o meu pedido de desculpas por não ter tido, naquela altura, o discernimento e força para enfrentar aqueles que, não fazendo, impedem quem quer fazer.

III.IV – O “caso” da publicação da Coudelaria Freixo

O estado de coisas havia chegado, ultimamente, a um exagero e irracionalidade tal que, a história que vou contar servirá, pelo seu ridículo, apenas para que se interprete as abordagens diferentes que algumas pessoas fazem de situações similares. No dia 16 de Março deste ano, um sábado, e estando a página do Facebook da Prótoiro parada, resolvi-me publicar uma fotografia que, pela sua qualidade, me parecia enriquecedora dos conteúdos que partilhávamos. Tratava-se de um cavalo da Coudelaria Freixo que, por acaso, até é de Montemor e que eu, numa tentativa de completar a mesma publicação, havia transcrito dois parágrafos directamente do site da referida Coudelaria.
Não demorou até receber uma mensagem do Dr. Diogo Costa Monteiro, a soar a repreensão, e acusando-me de fazer publicidade à Coudelaria Freixo, por esta ser minha conterrânea. Este facto, pelo seu ridículo, nem merece comentário. O que merece comentário, ou ser questionado, é a razão pela qual a ganadaria mais partilhada ultimamente na pagina da Prótoiro ser a Murteira Grave? Será que na semana de 20 a 26 de Maio, o Sebastien Castella foi o único a tentar em Portugal?
Não vou responder. Quem tiver de o fazer que se chegue à frente, mas parece-me a mim que estes factos é que consubstanciam uma descarada
publicidade, em detrimento de um distanciamento, equidistância e justeza que há que respeitar relativamente a todas as ganadarias que a Prótoiro, através da Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, representa.
A busca de protagonismo assume muitas formas e motivações e, nem sempre, aquele que mais aparece é quem efectivamente o deseja.

III.V – O “caso” do almoço em minha casa

Desde sempre, tanto em casa de meus pais, na de familiares meus e na minha, se receberam toureiros por altura das Feiras em Montemor, tanto na de Maio, como na de Setembro. É uma espécie de tradição cá em casa. Este ano não foi excepção e, assim que tomei conhecimento de que haveria corrida em Maio, decidi-me convidar o Rui Fernandes, e a sua quadrilha, para que almoçassem e se vestissem aqui em minha casa. Tive, no entanto, o cuidado de convidar, e com bastante antecedência, alguns dos membros da Direcção e Comissão Executiva da Prótoiro. Convidei alguns amigos e, como desse grupo fazem já parte alguns jornalistas taurinos, foram também convidados. O propósito era, tal como em anos anteriores, juntar amigos à mesma mesa, falar de toiros e cavalos, e passar um dia agradável.
O Hugo Teixeira acedeu ao meu convite, esteve presente no almoço, partilhámos uns bons momentos de tertúlia e, muito sinceramente, não senti necessidade de lhe pedir que não tirasse as fotografias que assim entendesse. É corrente, aficionados receberem toureiros e outros agentes da Festa em suas casas, essas tertúlias acontecem, muitas vezes são divulgadas publicamente através da Imprensa Taurina, e eu não vi, como não vejo, incompatibilidade alguma entre representar a Prótoiro e receber quem eu quiser na minha casa.
Não obstante, nessa mesma noite, e logo após o Diário Taurino ter publicado as fotos do almoço em minha casa, recebo do Dr. Diogo Costa Monteiro um correio electrónico, com o “link” para a noticia, dizendo-me “ipsis verbis” que não queria acreditar numa coisa daquelas, que ninguém na Prótoiro tinha aquele comportamento publico, e que achava que “se eu queria ter aquele tipo de comportamento e visibilidade não poderia, pura e simplesmente, estar na Prótoiro.”
Relembro que o “comportamento e visibilidade” a que o Senhor Dr. Diogo Costa Monteiro se refere é ao facto de eu ter oferecido, a alguns amigos, um almoço em minha casa, e para o qual o Senhor Dr. Diogo Costa Monteiro havia sido o primeiro convidado. No entanto, esta parece ter sido uma das motivações principais da Direcção quando na reunião a que fui convocado para
estar presente no Porto Alto, no dia 8 de Maio, me manifestou o seu desagrado acerca da minha “incessante busca de protagonismo” e “vaidade”!

IV – A reunião da minha demissão no dia 8 de Maio no Porto Alto

Quando sai de Montemor para estar presente na reunião, dia 8 de Maio, no Porto Alto, embora tivesse sido convocado no dia anterior, e desconhecendo ao que ia, suspeitava o que poderia ocorrer na mesma, embora estivesse longe de imaginar a gravidade do que se passou. Aplica-se na perfeição o velho ditado de que “quando o cão vai ferido, todos lhe atiram pedras”, e foi o que aconteceu. Se estivemos, mais de uma hora à espera do Dr. José Fernando Potier, valeu bem a espera, pois seria ele a ditar a sentença, de tão bem ensaiado que levava o discurso. Se alguém já se encontrou numa situação idêntica, onde tenha tido de enfrentar, surpreendentemente todo o tipo de acusações sem o mínimo fundamento, poderá avaliar o que, efectivamente, se passou nesta reunião. Com a agravante das mesmas serem proferidas por pessoas com as quais havia estabelecido relações de amizade e confiança, embora em graus diferentes.
Para além de ser confrontado com alguns dos casos do passado, que agora exponho, e que reflectiam, segundo a Direcção e Comissão Executiva da Prótoiro, o meu exagerado protagonismo fui, também, advertido que por ter o pagamento do meu IRS em atraso, colocaria, caso isso se tornasse publico, em cheque a Prótoiro enquanto instituição. Não sei porquê, uma vez que a Prótoiro me devia há altura, e deve ainda hoje, parte dos meus vencimentos. Basicamente a Prótoiro valorizou a minha divida para com as Finanças (que alias já se encontra paga), ao mesmo tempo que desvalorizava uma divida muito superior que tinha para comigo.
Aqui torna-se uma obrigação, em nome da justiça, referir que o João Ribeiro Telles foi o único que se insurgiu contra a forma como estava a ser conduzida aquela reunião, afirmando que não fazia sentido estarem a proceder àquilo que apelidou de minha “crucificação”, quando era a Prótoiro que me devia dinheiro.
Fazendo fé na sinceridade das palavras que me foram transmitidas por alguns elementos, tanto da Direcção como da Comissão Executiva da Prótoiro nos dias seguintes a esta reunião, parece ser consensual a ideia de que vexatória e humilhante para mim, são as palavras que melhor descrevem o que lá se passou. Houve, até,
alguém que faz parte da Direcção que afirmou que eu tinha todas as razões para me sentir ofendido. Não obstante, até hoje, ainda ninguém teve a humildade ou consideração de o demonstrar ou admitir.
Esta reunião atingiu extremos tais de ridículo e desproposito que me chegou a ser, pelo Dr. José Fernando Potier, sugerido que, quando estivesse nas bancadas de uma qualquer praça, e no sentido de precaver que saíssem fotos minhas, deveria colocar a mão em frente à cara!
Por ultimo, em jeito de “pièce de résistance”, ainda fui confrontado pelo Dr. Diogo Costa Monteiro com a necessidade de assinar um acordo de sigilo onde, basicamente, nunca mais poderia falar livremente sobre toiros, sob pena de poder beliscar a Prótoiro, altura na qual seria accionada, caso a Federação o entendesse, uma cláusula penal de 50.000 Euros associada a esse mesmo acordo.

V - A reunião com os toureiros após a minha demissão

Não fosse a forma como a Prótoiro escolheu explicar a minha saída na reunião com os toureiros e, seguramente, este esclarecimento não teria visto a luz do dia. Foram, claramente, as razões e forma que a Prótoiro escolheu para comunicar a minha saída da Federação que me obrigaram a esta atitude, relativamente à qual não retiro qualquer tipo de satisfação. Nessa reunião, escolheu a Prótoiro, entrar num domínio que pode ser legitimamente considerado com atentatório da minha honra e bom-nome, facto relativamente ao qual, e como julgo que todos compreenderão, não posso ficar indiferente.
Nessa reunião, foram apontadas várias razões na tentativa de justificar a minha saída da Prótoiro:
a) A primeira havia sido fruto da minha “tomada de decisões”, bem como da “promoção de acções”, sem consulta da Direcção da Prótoiro. Aqui vejo-me obrigado a desafiar tanto a Direcção como a Comissão Executiva da Prótoiro a que apontem quais foram essas decisões, quando as tomei, e em que contexto? Que eu saiba, na Prótoiro, e de há vários meses para cá, não se tomava uma decisão que valesse o peso da própria palavra! Volto a afirmar que a única razão que me foi apontada na reunião de dia 8, e que pode consubstanciar uma tomada de decisão, ou promoção de acção, foi o almoço que ofereci em minha casa;

b) Foi afirmado que na prevenção dos “telhados de vidro”, aos quais a Prótoiro não poderia estar sujeita, o meu afastamento tinha sido ditado por eu ter “problemas com as Finanças”. Aqui não só a Federação quebrou uma cláusula de sigilo associada ao recebimento de uma notificação por parte da Autoridade Tributária, atropelando, até, o que


tinha sido acordado na reunião de dia 8 de Maio no Porto Alto, como abriu portas, ao não especificar que “problemas” eram esses, a que todas as especulações se tornassem válidas. Provavelmente, algumas pessoas terão saído da referida reunião, pensando que eu estaria envolvido em algum processo de fraude ou evasão fiscal;

c) Por ultimo, e bastante mais grave, foi afirmado nessa reunião que a Prótoiro “nada me devia”. Provavelmente, para a Prótoiro, os “telhados de vidro” a que se referiram diziam respeito apenas à divida que eu tinha para com as Finanças, uma vez que aquela que a Prótoiro tinha, e tem, para comigo, não pressupõe, obviamente, nenhum “telhado que possa ser quebrado”. Foi, assim, avançada uma descarada falsidade por parte da Prótoiro quando, na tentativa de esconder as falhas e inercias existentes na Federação, afirmou que “nada me devia” facto que era à altura, e continua a ser hoje, mentira.

Do peso das razões que foram apontadas pela Direcção da Prótoiro, demonstrando o seu descontentamento e justificando a minha saída, avaliarão agora todos os aficionados, e os diferentes agentes da Festa, bem como da validade das mesmas mas, como referi, não posso ficar indiferente à forma e leviandade com que foi conduzido este processo.
Acerca do meu “excesso de protagonismo”, convém realçar que nunca vi a Direcção da Prótoiro preocupada com o mesmo, quando foi, e continua a ser, a minha cara que aparece sempre que os anti taurinos pretendem atacar a Tauromaquia! Nunca vi a Direcção da Prótoiro preocupada com o “meu excesso de protagonismo”, quando recebi e recebo, diariamente mensagens com insultos e ameaças por parte dos anti taurinos! Nunca vi a Direcção da Prótoiro preocupada com o “meu excesso de protagonismo”, quando tive as moradas e números de telefone de familiares meus, desde tios a avós, reveladas publicamente, em jeito de ameaça, em sites, blogues e páginas anti taurinas! Nunca vi a Direcção da Prótoiro preocupada com o “meu excesso de protagonismo”, quando os anti taurinos partilharam a fotografia do meu filho, com a morada da escola que este frequentava, divulgando que aquele era “o filho do José do Carmo Reis”!
Por outro lado, o facto de eu ter oferecido um almoço em minha casa, isso sim, é motivo de preocupação para a Direcção, pois revela, de facto, uma busca de protagonismo atroz.
Quanto ao caso das Finanças, bem como da divida que a Prótoiro tinha, e tem para comigo, e pela forma como foram avançadas para justificar a minha saída, penso que encerram uma gravidade tal que merecem que seja reposta a
verdade. Esta é a de que, numa reunião com vários associados, a Prótoiro e quem usou da palavra, faltou à verdade. Qualquer instituição que o faça, ainda que para atingir qualquer agenda, enferma de um princípio basilar na sua principal obrigação para com aqueles que representa: - Ser clara, rigorosa e, acima de tudo, verdadeira.

VI – Conclusão

Saí da Prótoiro com a minha consciência absolutamente tranquila. Contrariamente àquilo que muitos podem pensar, a minha entrada para a Federação deu-se, não porque eu tivesse respondido a algum anúncio de jornal, concurso ou, até, voluntariado para o cargo mas, antes, porque fui convidado, e fi-lo sem nestes 15 meses arranjar nenhum biscate que me ligasse a qualquer sector dos que representava.
Cumpri com tudo aquilo que me foi exigido, e até mais, uma vez que, quem me conhece sabe que a Prótoiro sempre esteve em primeiro lugar relativamente a tudo o resto. Contudo nunca escondi a ninguém que o constante atraso no pagamento dos vencimentos que comigo haviam sido acordados, estavam a colocar-me numa situação economicamente insuportável. Como prova disso, está um correio electrónico que enviei aos meus ex-colegas da Comissão Executiva em 12 de Março de 2013, lamentando a situação a que tínhamos chegado, e explicando-lhes que estava a equacionar a minha demissão, uma vez que o atraso no pagamento dos meus salários me estava a arrastar para uma situação bastante difícil. Foi-me, na altura, pedido que não fizesse nada, uma vez que tal decisão poderia colocar em risco o futuro da Federação, numa altura em que era necessário assegurar aquilo a que todos nos referíamos já como “a sobrevivência da Prótoiro”. E eu acedi, mais uma vez.
Não fossem os acontecimentos que agora relato e, provavelmente, eu teria apresentado na mesma a minha demissão. Discordo, profundamente, do rumo, bem como da filosofia que alguns defendem, e que parece ter-se instalado na Prótoiro. A visão que muitos sustentam, de que a nossa Tauromaquia é uma pirâmide na
qual a Prótoiro ocupa o pináculo, e do qual não deve descer para se “misturar” com os comuns aficionados, para além de impostora, está completamente errada. Os erros estratégicos, numa qualquer organização, pagam-se sempre caros, e eu sempre defendi que a Prótoiro será tão mais forte, quanto mais aberta e representativa se conseguir tornar.
Encarar a Prótoiro como algo de maçónico, operando na sombra e em sigilo, não dando a conhecer projectos e metas estabelecidas àqueles que
podem, e devem, ajudar a Federação e que são os aficionados, conduzirá, a menos que algo mude, senão à extinção, pelo menos a um longo e penoso definhar de algo que é absolutamente necessário à nossa Tauromaquia. Mas isto apenas se consegue se esses aficionados se identificarem com o projecto e, até onde vai o meu entendimento, ninguém se poderá identificar com aquilo que desconhece. Foi essa sempre a abordagem que tentei seguir. Não haverá ninguém que, durante estes últimos 15 meses, me possa acusar de me ter abordado, e eu não ter despendido do meu tempo para com essa pessoa falar, para lhe responder às questões que me eram colocadas, e para dar a conhecer, na medida do que era possível, o que estávamos ou nos propúnhamos fazer.
Aqui convém fazer um parêntesis, relativamente a um assunto que interessará a todos os aficionados, bem como aos diferentes agentes da Festa. Sempre que se pretende motivar alguém para a necessidade de defender a Festa Brava, utiliza-se aquilo a que se pode considerar o instaurar de um clima de medo. Fornece-se às pessoas uma visão escura e tenebrosa do futuro da Tauromaquia, aventando que, caso nada se faça, os anti taurinos acabarão com as corridas de toiros em Portugal. Nada mais errado! O movimento anti taurino no nosso País, se assim se pode chamar, não tem expressão que possa representar, num futuro próximo, qualquer ataque sério e estruturado à nossa Tauromaquia. Convém ir monitorizando aquilo que fazem, respondendo a alguns dos ataques e desfrutando do prazer que encerra o facto de lhes infligir derrotas nas suas pretensões, mas sempre com a consciência de que o debate e luta contra os anti taurinos, deve ser encarado, não como a prioridade, mas sim como um acessório.
Os verdadeiros desafios que se colocam à nossa Tauromaquia, e que devem ser a principal prioridade de qualquer instituição que a pretenda defender, estão precisamente dentro do próprio sector. Há que reestruturar e reorganizar toda a actividade, por forma a fortalece-la cada vez mais, e prepará-la, aí sim, para os desafios que no futuro se apresentem. A nossa pequena dimensão, faz-nos estar, maioritariamente, apoiados no amadorismo, com tudo de bom, mas também de negativo que pode estar associado a esse facto. A mudança, ou a possibilidade dela, nem sempre é comoda, mas a Tauromaquia será, no futuro, aquilo que os aficionados dela desejarem, até que ponto se empenharem, bem como dos resultados apresentados pelas diferentes instituições que a pretendem defender, divulgar e promover, mas que ao mesmo tempo mereçam fazê-lo.
Quanto à minha saída da Federação, ela não implica que deixe de defender aquilo em que acredito e pelo qual sempre me bati. Isto tem a ver com pessoas, suas atitudes, e não com a Tauromaquia. Resume-se muito simplesmente: - Quando a Prótoiro necessitou de mim, eu estive sempre presente, mesmo com prejuízo da minha vida pessoal e financeira. O contrário
não foi, infelizmente, verdade! No fundo, a única magoa que me resta é a de ter tomado consciência, da pior forma possível, de que não valeu a pena representar com tanto empenho uma instituição, onde algumas das pessoas que a integram, conseguem ser tão, ou mais, desleais que os próprios anti taurinos.

Um abraço a todos,

José do Carmo Reis
Junho de 2013